![]() |
Foto do projeto Desáudio, do fotógrafo Lucas Lenci. Sobre a foto, Lenci diz "Não se trata de um silêncio completo, mas aquela mulher representa o silêncio em meio aos demais." |
Há um tempo foi
inaugurado um campo de futebol aqui do lado da casa da minha mãe, em
Ituporanga, até aí tudo bem, é um campo de futebol aonde as pessoas vão se
divertir, e não vai incomodar muito. Mas fizeram um bar e uma churrasqueira, e colocaram
caixas de som, sendo que uma fica virada para a nossa casa. Tudo bem. O
problema, é que o som fica ligado de segunda a segunda, de manhã até uma da
madrugada. Dormir bem? Não conheço mais. Paz? Não conheço mais. Silêncio?
Deixou saudades, muitas saudades.
Já faz pouco mais
de um mês que estamos convivendo com o barulho, com barulho digo gritos,
palavrões, bolas nas tábuas ao redor do campo, sertanejo universitário,
sertanejo estilo “Tonico e Tinoco”, pagode, e música ao vivo ruim, muito ruim.
Mas acho que mesmo se a música fosse boa ou se as pessoas não gritassem o tempo
todo “vai filha da puta”, “chuta essa bola viado”, “faz esse gol seu corno
desgraçado”, perdão pelos palavrões, mas é assim mesmo, ninguém consegue
conviver com o barulho 24 horas por dia, todos os dias da semana, é impossível.
Sem falar na raiva que me dá da falta de respeito que essas pessoas têm com o
próximo, ou melhor, será que essas pessoas sabem que existe um “próximo”? E é por isso que eu resolvi falar um pouco
sobre a alegria do silêncio.
Todo esse evento
coincidiu com a publicação da edição de janeiro da revista Vida Simples,
cujo tema é Ouça o silêncio. Coincidência
ou não, encaixou com o meu momento, principalmente com a frase de Gordon Hempton: “O silêncio está em
extinção”. E é verdade. Não tenho muitos anos de vida, mas já posso dizer que o
mundo esteve mais silêncio. Lembro quando passava as férias na fazenda do meu
avô, o silêncio era tanto, principalmente à noite, que ás vezes dava até medo.
Ouvia os sapos coaxarem, os grilos cantando, toda a sorte de animais, qualquer
barulhinho era perceptível. Esta semana fui com meu pai para Rio Bonito, uma
localidade aqui perto de Ituporanga, só para dar uma volta, e me assustei.
Sério! Fiquei menos de 20 minutos lá, e ouvi o silêncio. Que estranho essa
expressão, né? A única coisa que eu ouvia era o vento balançando o campo de
milho. E mais nada. Nadica de nada. Nada. Aquilo foi demais. Foi bom.
Exuberante. Apaixonante. Maravilhoso. Eu conseguia ouvir meus pensamentos!
E foi aí que eu
realmente percebi como a vida é barulhenta: os carros passando a toda hora,
ainda mais aqueles com som alto, os gritos, a TV, o rádio, a música do vizinho,
a barulheira do campo de futebol... Cadê meus pensamentos? Cadê o barulho do
vento? Cadê a paz? Cadê a calmaria? Foi-se. Não tem um lugar aqui perto de casa
que se compare ao silêncio do Rio Bonito.
E aí eu penso lá
na minha casa em Itajaí, o meu apartamento que fica lá no alto, e como é o
silêncio lá? Com certeza é maior que aqui em Ituporanga, já que lá não tem
campo de futebol do lado, mas tem as construções, os prédios, o barulho
insuportável do elevador, outro barulho insuportável da chuva caindo nas
antenas das televisões à cabo, e olha que adoro barulho de chuva, mas essas
antenas tiram toda a magia do negócio. E agora? Onde terei silêncio?
Então me
transporto lá pra casa da minha avó, em Navegantes, uma praia relativamente
calma. Digo relativamente porque ela mora ao lado de uma colônia de pescadores,
e digo uma coisa, nunca vi gente pra fazer tanto barulho, principalmente no
domingo às 6 horas da manhã. Paz? Não. E também tem os carros de som, que lá
bate o recorde.
E agora? Quem
poderá me salvar dessa barulheira toda? Não sei. Acho que preciso passar o fim
de semana reclusa em algum lugar longe da civilização e tecnologia, algum lugar
que não pegue celular, não tenha rádio ou televisões por perto. E de
preferência, não tenha muitas pessoas. Difícil? Praticamente impossível! Existe
um lugar assim hoje em dia aqui por perto? Não sei! Se você souber, por favor, avise-me,
que eu estou precisando de um retiro de silêncio na minha vida.
"O silêncio está ligado à questão da solidão."
Lucas Lenci
Sugiro ler a matéria Silêncio,
por favor da edição de janeiro da revista Vida Simples. Não é publicidade, apenas a matéria ficou muito boa e as fotos do projeto Desáudio estão demais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Oi! Gostou do post? Não gostou? Deixe seu comentário aqui! :D