domingo, 24 de novembro de 2013

Um sorriso no rosto e uma história pra contar.


    "Longe de casa, sozinha caminhando pelas ruas, sentindo aquela imensidão toda ao meu redor, e um mundo sem fronteiras pra conhecer. Milhas distante do conhecido, rumo à vida tão sonhada, à liberdade, ao conhecimento, à história, andar sem destino, com um Ray Ban preto e o cabelo amarrado num coque, o casaco xadrez amarrado na cintura e o All Star surrado já moldado ao pé. O dedo pedindo carona, a mochila com uma muda de roupa, um MP4 velho e arranhado e fones de ouvido enrolados. Andando pela rodovia, a tatuagem colorida refletindo a luz do sol, queimando os ombros expostos na regata branca. 
   Quem diria que eu chegaria até aqui? Quem diria que as coisas dariam certo assim? Isso é tudo o que sempre sonhei. Viver, sem perspectivas de um futuro, sem saber pra onde vou, onde estarei semana que vem, onde vou dormir essa noite, onde vai dar toda essa rebeldia que me fez andar tanto. É um lugar totalmente diferente, nem sei onde estou, só sei que é lindo. O verde é mais verde que o lugar de onde venho, o céu mais azul e as rosas mais vermelhas. As pessoas são mais sorridentes, os carros param na faixa, as pessoas não escutam música nos ônibus, não sem fone de ouvido. Os carros são menores, as estradas são mais planas, as calçadas mais limpas, e o trem funciona. Aliás aqui tem trem. E dá pra ver neve nas montanhas. A música é boa, a dança é alegre, os pubs são lotados, e as noites são frias. 
    Escuto o barulho do primeiro carro que passa desde que desci naquela estação bonitinha daquela cidadezinha com aquele senhorzinho de sorriso simpático. É um carrinho vermelho, velhinho e pequeno, vem devagar e carrega um casal de idade, que para no acostamento e pede para onde vou. Eu digo "na verdade, estou um pouco perdida, para onde os senhores vão?", então eles dão risada da minha situação: suada, cansada, vermelha, mas sorrindo. E vão contando histórias na estrada, que a filha estava no Japão, que perderam o filho caçula na Guerra, ainda bebê, estava no jardim de infância quando o lugar foi bombardeado. Mas tocaram a vida, afinal, ainda tinham uma menina para criar. 
       Me deixaram na estação daquela cidade, pequena também, apesar de não tanto quanto a que eu tinha deixado para trás. Era linda, tinha uma praia, e montanhas, e cafés na beira do mar, e as casas eram pintadas de cores fortes e todas diferentes, com varandinhas pequenas de ferro e cheias de flores. Andei mais um pouco, tinha um café ali por perto, estava com fome, peguei os últimos trocados, poucos, na verdade, quase nada, 5 euros. Deu pra um café e um pãozinho. A moça era simpática, me deu um desconto, só não sabia como ia me virar dali pra frente. 
      Durante o café, que tomei sentada ali naquelas mesinhas de ferro escuro na areia da praia, observei as pessoas que ali estavam, não eram do tipo que eu estava acostumada. Ninguém se vestia normalmente, eram roupas floridas, saias, azul bebê, bordô, rosa, para as mulheres, e boina, óculos de armação grosseira e calças sociais para os homens. Jovem, velho, adulto... Todos se vestiam assim. Que cidadezinha estranha! Mas no fundo, senti uma coisa boa, aquele sentimento bom que invade a gente quando estamos perto de alguém bom, sabe? Alguém que você não conhece, que pode nunca ter visto na vida, porém você sabe que aquela pessoa é boa. E assim estava me sentindo. Em casa. Mais em casa do que jamais havia me sentido. 
       De alguma forma, eu deveria estar ali. Perceber o quão tudo poderia mudar de uma hora pra outra, mas que daria certo, eu faria dar certo, não importa o que acontecesse. Os sonhos não são coisas para serem deixadas para trás, sonhos estão aqui para serem vividos e sentidos. E eu estou aqui, nesse momento, vivendo o sonho que sempre tive. Sem dinheiro, sem mala, sem celular, sem internet, sem fotos, só um sorriso no rosto e uma história pra contar."

Texto fictício por Luana Kraemer.


2 comentários:

  1. Tá inspirada essa semana, hein? 3º texto? Vou ser bem sincero com você e dizer que, de todos os seus textos que eu já li, esse foi o melhor. Sério, você chegou a lê-lo em voz alta? Ele tem um ritmo muito legal e espontâneo. No começo eu achei que seria melhor se fosse um conto mesmo, sabe? Narrativa, com começo, meio e fim, usando essa mesma personagem. Mas só desse jeito já ficou ótimo. De qualquer forma, fica aí a ideia pra você usar essa personagem como base para um conto ou um romance.
    Ela até me lembrou de uma personagem de Inocência, que ainda não apareceu nesse novo rascunho, mas logo vai dar as caras. Ela se tornou minha "criação favorita". Mais ou menos como a sua personagem, só que talvez um pouco mais louca e idealizada para o meu gosto...
    Bom trabalho, mesmo.

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    1. Pois é, ando sentimental! Que bom que gostou! Realmente tive a ideia de fazer uma história em torno dela. Quem sabe.

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