"Escrevo por não ter nada a fazer no
mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou
um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não
fosse a sempre novidade que me é escrever, eu me morreria simbolicamente todos
os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos
fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E só
quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."
Primeiro livro que li da Clarice Lispector, e por enquanto único, A hora da estrela é tudo aquilo e mais um pouco. Sabe aquela
escritora que te conquista? É ela. Sabe aquela que te faz pensar, refletir,
suspirar? É ela. Sabe aquela que te faz sonhar em ser escritora? É ela.
Clarice é amor.
Na verdade, faltam-me palavras para descrevê-la,
as palavras dela mesma descrevem-se sozinhas. Sabe por que quase não enchi esse
livro de post-its? Por que iriam
faltar post-its. Por que cada frase
de Clarice é uma relíquia. Por que cada suspiro de Clarice é clássico.
Clarice é amor. De novo.
Nunca dei bola para os escritores dos livros, as
histórias sempre foram mais interessantes do que escolher livros por autores,
mas, Clarice é Clarice. Não tinha como não dar bola pra ela. Principalmente
porque em cada letra, ela está lá. Ela é aquele tipo de escritora presente, que
não sai da cabeça da gente. Ela está
falando comigo? Parece que sim.
Macabéa
é uma personagem horrível. Sério, ela é péssima. Ela é péssima como ser humano.
Ela não sabe viver, rir, respirar, sentir. Macabéa é um ser errante. Com a vida
errada, mas sem se dar conta do errado. Nascida no nordeste, mas foi com a tia
para o Rio de Janeiro, a tia malvada que ela pensou ser boa até o fim de sua
vida. Lá, depois que a tia morreu, Macabéa foi morar com umas meninas,
dividindo quarto, trabalhando nas Americanas
e tomando Coca-Cola, e comendo
cachorro-quente na lanchonete da esquina. E tomando café frio à noite. Macabéa
era uma sofredora nata. Mas uma sofredora que não sabia que sofria. Sofreu uma
traição, mas pensou que merecia. Coitada de Macabéa.
É uma história miserável. Falei pouco? Mas o
suficiente. Só não falei o fim. Por que aí não dá né. Mas você não lê Clarice
por causa da história, mas por causa das palavras. Ela tem um estilo só seu,
mas na verdade, o narrador que nos conversa é um homem das palavras, que sofria
com seus personagens e que se entediava ao mesmo tempo. Li em algum lugar que
todo livro da Clarice é autobiografia. Não conheço muito de Clarice, mas acho
que dá pra imaginá-la sentada em lugar, com um cigarro a mão, um copo de whisky
na outra, falando como que entediada, como que extasiada. Não sei porque
tenho-a assim em pensamento, mas tenho.
- Livro: A hora da estrela
- Editora: Rocco
- Autora: Clarice Lispector
- Lançamento: 1977
- Páginas: 87
Nossa, sempre quis ler algo da Clarice, mas nunca tive a oportunidade. Sua resenha me encantou! Parece que ler algo dela é exatamente como imaginei, uma experiência indescritível! Daquelas que te fazem refletir e viajar, uma leitura fenomenal e difícil de encontrar hoje em dia.
ResponderExcluirAdorei!
Beijos
aquelaborralheira.blogspot.com.br
Quando surgir a oportunidade, sugiro que leia. Essa foi a minha primeira leitura, mas, com certeza terão mais. Que bom que gostou da resenha, e Clarice é tudo o que você falou, ela te faz refletir, filosofar, pensar... muito bom!
ExcluirBeijos!
Já estou apaixonada por ela sem nem lê-la!
ResponderExcluirOi Lari! Você vai amaaaar ela!
ExcluirTambém foi o meu primeiro livro da Clarice por enquanto,que coincidência! Realmente ela nos toca,e o narrador...chega eu tomava susto. Quero ler mais dela!
ResponderExcluirBeijoo
http://cultoletrando.blogspot.com.br/
hahaha Realmente, o narrador aparece do nada, né! Mas é muito bom, também quero ler mais coisas dela.
ExcluirBeijos!